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domingo, 31 de maio de 2015

RESÍDUOS SÓLIDOS: AGENDA IMPORTANTE PARA O MARANHÃO

Prefeitura de São Luis anunciou o fim do Aterro da Ribeira, em 27 de julho
A Associação Brasileira dos Membros do Ministério Público de Meio Ambiente (Abrampa) e a Associação Técnica Brasileira das Indústrias Automáticas de Vidro (Abividro) realizaram sexta-feira (29), na sede da Procuradoria Geral de Justiça, um workshop para debater a Política Nacional de Resíduos Sólidos, instituída pela Lei Nº 12.305/2010.

O tema vem sendo apresentado em 12 capitais brasileiras, com o objetivo de divulgar a legislação pertinente aos resíduos sólidos e a sua aplicação nos estados e municípios.

Em grande parte, a inciativa de colocar este problema em pauta deve-se ao promotor Fernando Barreto, recém-eleito presidente da Abrampa.

A tarefa não é fácil, mas Barreto é persistente, capaz e sensível às boas causas do Ministério Público.

Quando foi instituída, em 2010, a Lei Nº 12.305 estabeleceu prazo para que as prefeituras extinguissem os lixões a céu aberto e elaborassem os planos municipais de resíduos sólidos. A mesma recomendação foi dada aos estados.

Resultados:

1) a maioria das prefeituras manteve os lixões ou fez maquiagens, transformando-os em aterros controlados;

2) os planos foram elaborados a toque de caixa, com suspeitas de que empresas de consultoria ganharam muito dinheiro fazendo peças de ficção, à base do “control c / control v”, sob encomenda dos prefeitos.

LIXÕES PREDOMINAM
Promotor Fernando Barreto apresentou dados sobre os lixões no Maranhão. Foto: Carolina Prazeres
Em sua exposição sobre a Lei Nº 12.305/2010, o promotor Fernando Barreto apresentou dados preocupantes sobre o Maranhão. Vejamos:

83,97% dos municípios têm lixões a céu aberto;

13,74% das cidades possuem aterros controlados, maquiagem para o lixão;

1,53% fizeram aterro sanitário;

0,76% queimam o lixo;

Na síntese de Barreto, o panorama do Maranhão é de 90% a 95% dos municípios com lixões ou aterros controlados.

O prazo mais recente para a extinção dos lixões foi agosto de 2014. Na Marcha dos Municípios de 2015, os prefeitos atrasados reivindicaram novos adiamentos.

Vigilante, o MP cobra as prefeituras e tenta sensibilizar os gestores. Estes, por sua vez, reclamam que tratar lixo é oneroso.

Participante do workshop, o deputado federal Vitor Mendes (PV), ex-secretário de Meio Ambiente no governo Roseana Sarney (PMDB), fez o coro dos prefeitos.

Segundo o parlamentar, os municípios não têm recursos para manter os aterros sanitários. “É um problema quase sem solução. Aterro é caro para construir e manter”, frisou.

Em geral, no Maranhão, os prefeitos costumam aplicar os recursos públicos em apartamentos de R$ 4 milhões e carros luxuosos de R$ 300 mil, ostentando o dinheiro público.

Esse lixo da política está se lixando para os resíduos sólidos.

A curto prazo, a solução de Mendes para gerenciar o lixo é a instituição de PPP (Parceria Público Privada), através do governo federal.

Porém, a proposição do deputado foi contestada pelo promotor Raimundo Moraes, do Ministério Público do Pará. Para Moraes, entregar a gestão do lixo ao mercado não é a única nem a saída mais acertada para os resíduos sólidos.

LOGÍSTICA REVERSA
Lixão em Paço do Lumiar é realidade em quase 95% dos municípios do Maranhão
Um dos desdobramentos do workshop é a popularização do conceito de logística reversa: 

“instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos ou outra destinação final ambientalmente adequada.”

Traduzida, a legislação visa evitar a geração e reduzir a quantidade dos resíduos (reutilizar, reciclar, tratar) e dar a devida disposição final aos rejeitos – tipo de lixo que não admite reaproveitamento, tratamento e recuperação.

Nessa perspectiva, três medidas seriam fundamentais: adotar tecnologias limpas de tratamento, incentivar a reciclagem e integrar os catadores, com dignidade, à cadeia produtiva do lixo.

Em outras palavras, significa transformar os resíduos em matéria-prima.

A iniciativa da Abrampa visa educar os gestores naquilo que já é de amplo conhecimento: a logística reversa limpa as cidades, gera empregos, economiza energia, estimula arranjos produtivos e humaniza os catadores.

Na logística reversa, economia de energia é tudo. Segundo a presidente da Abividro, Ana Paula Bernardes, um terço do preço do vidro corresponde a consumo de energia para aquecer forno e fundir o produto final.

CARITAS E ASCAMAR
Esforço da Ascamar retira lixo das ruas, mas falta apoio para os catadores

Em São Luís, a Associação dos Catadores de Material Reciclável (Ascamar), criada há 11 anos, congrega 17 trabalhadores na coleta e seleção de resíduos sólidos. Funcionando aos trancos e barrancos, trata-se de uma experiência que precisa ser observada e valorizada pelos gestores públicos.

A Caritas Brasileira, regional Maranhão, é uma das poucas entidades antenadas ao tema. Através do projeto “Reciclando Vidas”, a Caritas vem sensibilizando e cobrando as autoridades sobre as dimensões da cadeia produtiva dos resíduos sólidos.

Implantado em Imperatriz, Buriticupu e Balsas, o projeto “Reciclando Vidas” é desenvolvido em parceria de Caritas Brasileira, Caritas Espanhola e Comunidade Europeia. 

“A ideia do projeto é despertar os(as) catadores(as) para os direitos que têm, despertar o Estado e a sociedade para o reconhecimento e responsabilidades não só para com os resíduos sólidos, mas sobretudo para com os trabalhadores, no contexto dos direitos humanos e da garantia de políticas públicas para o segmento”, explicou Ricarte Almeida Santos, diretor executivo da Caritas Maranhão.

Em sintonia com a Caritas, a presidente da Abividro, Ana Paula Bernardes, defendeu a humanização dos trabalhadores do lixo. “O catador tem de ser um agente ambiental, com carteira assinada”, sugeriu.

OUTROS RESÍDUOS

Cantado pelos prefeitos, o mantra da falta de recursos para tratar os resíduos sólidos é facilmente silenciado.

Desvio de dinheiro público e coleta de lixo é uma experiência concreta de logística reversa, ou melhor, logística perversa.

Em São Luís, basta recordar que a antiga Companhia de Limpeza e Serviços Urbanos (Coliseu) foi sangrada até a morte. O ex-prefeito João Castelo (PSDB) encarregou-se de fazer a liquidação da empresa.

Depois da Coliseu, vieram os contratos de emergência, sem licitação, com a Limpel/Limpfort e a Vital Engenharia.

A dispensa de licitação continua. Nas eleições para a Prefeitura, o dinheiro gasto com a coleta de lixo sempre volta ao noticiário. Deve ser assim em 2016.

Em meio a um desafio tão grande para instituir uma política de resíduos sólidos, a boa notícia é que a Prefeitura de São Luís vai fechar o Aterro da Ribeira, dia 27 de julho.

O anúncio veio do secretário de governo, Lula Fylho, representando o prefeito Edivaldo Holanda Junior (PTC), que não compareceu ao workshop.

A má notícia foi a fotografia das cidades maranhenses, revelada pelo deputado Vitor Mendes. A frase merece destaque:

“A primeira coisa que a gente vê na entrada nos municípios do Maranhão é a placa do armazém Paraíba. E, ao lado, o lixão. É o cartão de visita em quase todas as cidades”

Falou e disse!

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