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sexta-feira, 29 de outubro de 2010

SURFANDO NO ABISMO SEM PRECISÃO DE PARAR

Paulo Melo Sousa *

Amor e dor. Além da rima, a verdade. Nua, crua e suculenta. Conviver com todos os erros que não podem ser evitados. Um naco de sabedoria sempre sobra no fundo escuro da cartola. Aprender com as impossibilidades dos que tropeçam ao nosso lado. Compreender o limite do humano, sem as muletas da misericórdia.

Caminho as ruas, carrego na alma a herança kármica e sanguínea do bárbaro Licantropo que me habita e uiva destrambelhado em noites enluaradas, sonhando com o amanhecer nos braços da escolhida. O amor ainda não trouxe a paz. No entanto, evita a partida final. Sem vela. Sem choro.

Nunca depender do entendimento do outro. Nem mesmo de quem nos ama. A perfeição é uma abstração matemática distante do universo da poesia.

Estou cansado de mergulhar sozinho nos abismos. A morte poderia ser um alívio. Nunca uma solução. Viver às vezes não passa de uma penitência. As palavras que sobrarem de mim talvez inoculem a peçonha da beleza na alma dos inocentes. Se o ofício da poesia for pecado, não pretendo ser curado dessa enfermidade. E não me interessa o julgamento moral e mesquinho da posteridade.

Sou apenas o que as palavras dizem. Ou não.

A noite é minha morada.

* Paulo Melo Sousa é poeta, jornalista e ambientalista.

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